Equivocos do texto base da CF 2011

1 de abril de 2011

Geraldo Luís Lino*
* Autor do livro A fraude do aquecimento global: como um fenômeno natural foi convertido numa falsa emergência mundial (Capax Dei, 2009). si_especial_campanha_fraternidade_2011.pmd8 24/2/2011, 20:05 Fevereiro de 2011 9
Nesse sentido, alguns dados chamam a atenção, como por exemplo, as concentrações de dióxido de carbono (CO2), o gás de efeito estufa mais importante, aumentaram entre 1995 e 2005 em um ritmo mais acelerado
do que entre 1960 e 1995. Como o aumento se deve à maior presença de CO2 na atmosfera, então a conclusão é que a temperatura tende a aumentar cada vez mais.”
Neste único parágrafo, há duas imprecisões científicas e uma informação que, por si só, não tem qualquer relevância prática. A primeira imprecisão é a afirmativa de que o CO2 é “o gás de efeito estufa mais
importante”; não é, o privilégio cabe ao vapor d’água (H2O), responsável por mais de 90% do efeito, cabendo ao CO2 pouco mais de 5%. A segunda é a conclusão de que mais CO2 na atmosfera implica em temperaturas
mais altas: a relação de causa e efeito, nas últimas centenas de milhares de anos, tem sido exatamente a oposta; quem varia primeiro são as temperaturas, as concentrações do gás as acompanham,
em intervalos de tempo variáveis de alguns a centenas de anos. E a irrisória alta de temperatura
verificada desde o século XVIII, como veremos adiante, não se distingue em nada das variações muito maiores ocorridas no passado. Na p. 24, os autores afirmam que, “segundo estimativas, a queima de combustíveis
fósseis acrescenta anualmente 5 bilhões de toneladas de CO2 na atmosfera”.
E, adiante, na p. 32, advertem: “Assim, dada a quantidade de CO2 na atmosfera, a redução necessária para as emissões seria, segundo o IPCC, da ordem de 50% até 2030. (…)” Porém, os autores não dizem que a
Contribuição humana para o CO2 que entra na atmosfera é muito inferior à das fontes naturais (oceanos, seres vivos, vulcões etc.). O Dr. Luiz Carlos Baldicero Molion, do Instituto de Ciências Atmosféricas da
Universidade Federal de Alagoas (UFAL), um dos maiores críticos brasileiros do alarmismo climático, enfatiza que a atmosfera recicla anualmente 200 bilhões de toneladas (gigatoneladas) de carbono, mas existe uma faixa
de incerteza muito grande sobre estes números, que são calculados entre 160 e 240 gigatoneladas, segundo os
diversos estudos existentes. Como a contribuição humana não passa de 8 gigatoneladas, ela é de
apenas 10% da faixa de incerteza das estimativas sobre a quantidade total de carbono que entra na atmosfera todos os anos.
Isso significa que, ainda que a toda a Humanidade embarcasse na irracional – e potencialmente suicida – agenda de redução de 50% das suas emissões de CO2, o impacto nos fluxos naturais de carbono seria
insignificante, em relação aos números conhecidos. Por outro lado, o sacrifício socioeconômico imposto à Humanidade
Fig. 1 – Variação das concentrações atmosféricas de CO2 e temperaturas nos últimos 560 milhões de anos. Observe-se que, durante a maior parte do período, as duas curvas não mostram uma correlação clara e as concentrações de CO2 foram bem maiores que as atuais (Fontes: R.A. Berner e C.R. Scotese, www.geocraft.com/wvFossils/ Carboniferous_climate.html).
si_especial_campanha_fraternidade_2011.pmd9 24/2/2011, 20:051Solidariedade Ibero-americana
seria enorme, pois tal redução afetaria, principalmente, o uso dos combustíveis fósseis – petróleo, gás natural e carvão mineral –, que proporcionam mais de 80% da energia primária consumida e cerca de dois terços da eletricidade gerada em todo o mundo. A quantidade de erros referentes à dinâmica climática encontrados no documento da CNBB é tão grande que mais vale refutálos em bloco, demonstrando a falta de base científica para a hipótese do aquecimento global antropogênico, na parte seguinte da presente edição.

A abundância de energia é um “perigo”
No tocante às fontes de energia, o trecho seguinte sintetiza a visão dos autores (p. 31): “(…) É preocupante o direcionamento que as recentes decisões do governo estão conferindo à questão das fontes energéticas
em nosso país. Hoje a Região Amazônica é palco de grandes projetos hidrelétricos, como as usinas Jirau e Santo Antônio, no rio Madeira, Belo Monte e Tapajós, no Pará, além de muitas Pequenas Centrais Hidrelétricas
(PCH) espalhadas pelo país e os acenos de expansão da matriz energética atômica. E, em meio às dificuldades mundiais de contenção das emissões de CO2, o governo praticamente ignora o potencial oferecido pelo nosso imenso território para a implementação e expansão da energia solar e da eólica… A lógica desses projetos
energéticos está na contramão das medidas necessárias para diminuir ou conter o aquecimento global e impedir que a desestabilização do clima coloque em risco as condições de vida do planeta. (…)” Convenientemente, os autores não esclarecem que as únicas formas tecnológica e economicamente viáveis de geração de eletricidade
para abastecer sociedades urbanizadas e industrializadas são as usinas hidrelétricas, termelétricas e nucleares, que respondem por cerca de 98% da eletricidade gerada no planeta. Devido à sua reduzida densidade energética e custo elevado, as chamadas fontes “alternativas” – solar, eólica, geotérmica, biomassa etc. – são apropriadas apenas para abastecimentos locais ou pontuais. Qualquer sugestão em contrário não passa de desinformação ou
desorientação ideologicamente motivada. A visão distorcida contra os combustíveis fósseis atinge as raias do absurdo, quando, em vez de celebrar a ampla disponibilidade deles, os autores afirmam exatamente o oposto
(p. 30): “As reservas disponíveis são suficientes para manter este consumo por décadas, talvez com preços
um pouco mais elevados. Atualmente, o perigo não é propriamente a escassez, mas a abundância de oferta destes produtos fósseis[grifos nossos]. (…)” Ou seja, a disponibilidade de fontes energéticas a custos acessíveis, que possibilitem a modernização das economias de todo o mundo e o aumento dos níveis de vida proporcionado pela disponibilidade de eletricidade (benefício de que pelo menos 1,5 bilhão de habitantes do planeta ainda não dispõem), é considerada um perigo pelos redatores do documento!
Por isso, não admira que outra passagem desqualifique a exploração de petróleo e gás natural na camada pré-sal da costa brasileira (p. 107): “(…) A exploração do pré-sal não é a maravilha apresentada pelas propagandas governamentais, pois além de dispendiosa e de incorrer em riscos de graves acidentes ambientais, trata-se da energia que mais emite gases de efeito estufa, a combustão de derivados de petróleo. (…)” Em uma reles frase de efeito, os autores depreciam a relevância de uma das maiores descobertas da exploração de hidrocarbonetos
das últimas décadas em todo o mundo, fruto exclusivo da qualificação dos técnicos da Petrobras – quase como se a façanha, saudada internacionalmente, representasse um crime de lesa-humanidade. E, logo adiante, voltam a atacar a tecnologia nuclear (pp. 107-08): “(…) A sociedade precisa se opor firmemente a iniciativas de expansão da matriz atômica, porque os seus resíduos permanecessem (sic) ativos por longos anos; seria um problema que legaríamos par muitas gerações futuras.” Curiosamente, os autores do libelo passam por cima do fato de que o Vaticano é si_especial_campanha_fraternidade_2011.pmd10 24/2/2011, 20:05 Fevereiro de 2011 11
membro fundador da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), órgão que tem entre as suas
atribuições precípuas o desenvolvimento da energia nuclear para fins pacíficos

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